domingo, 27 de outubro de 2013

Cubaliwa, Lavagem Cerebral e III Bloko dos K7 Azuis.... à porta

Cubaliwa, Lavagem Cerebral e III Bloko dos K7 Azuis são alguns dos álbuns que deverão estar nas ruas nos próximos dois meses que ainda restam para o final do ano. O facto é que estes são dos trabalhos mais esperados nos últimos tempos. Pelo menos no que diz respeito ao circuito underground do movimento Hip Hop moçambicano. Esta é, de resto, a boa nova que povoa as mentes dos amantes do RAP nacional.

Sobre o primeiro, Cubaliwa, muito se pode dizer. Quem avalia as músicas - ABC do preconceito e Cão de raça - que, neste momento, fazem a promoção deste segundo trabalho discográfico de Azagaia já pode começar a medir a temperatura do álbum. Ela está alta, afirmo sem medo de errar. Este álbum vem sendo prometido a bastante tempo e depois de muita e longa espera, estou confiante que o trabalho irá corresponder às expectativas que a demora no seu lançamento criou.

A proposta de Flash Enccy, Lavagem Cerebral, é mais ousada, bem à medida das suas capacidades líricas. Os que acompanham a carreira deste homem do Hip Hop nacional sabem do que estou a falar. Quem escutou/escuta “Episódio específico de Loucura” deve ter noção de que a lavagem cerebral é possível. E mais do que isso perceberá que a “revolução começa no ponto de vista de cada cidadão.”

Mas, uma coisa é certa. O Flash Enccy que uma vez disse que o “estúdio é a oficina onde o MC é mecânico” não parece o mesmo que hoje “entra numa sala de aula para dar aulas sobre sexo às crianças” (escuta a faixa de promoção do novo álbum). O flow não sofreu grandes modificações, mas a agressividade já não é a mesma. Naquela época estávamos diante de um rapper que lutava por um espaço. “Eu luto pelo espaço que sempre me foi merecido,” disse uma vez numa música. Estava ávido em mostrar o que realmente valia. Hoje, estamos diante de um “Hipopótamo” incontornável na cena do Hip Hop nacional e a motivação já não é a mesma. Se essa e outras modificações são positivas ou negativas, isso é discutível.

Mas nós continuamos a espera da lavagem cerebral.

E, finalmente, teremos em Dezembro o terceiro Bloco dos K7 Azuis, os soldados da paz. São 40 faixas num só álbum. Algo inédito cá em Moz. Mas mais do que a quantidade das faixas, é a qualidade que elas deverão ter que realmente importa.
Nos blocos ou se quisermos álbuns anteriores, este grupo, comandado pelo produtor Baba-X, nos habituou a uma escrita caracterizada por muita poesia e mensagem bastante consciente. Ainda não ouvi as faixas que compõem o álbum, mas a avaliar pelo desempenho destes “agentes da ONU” nas suas músicas mais ou menos recentes posso afirmar que teremos horas infinitas de muita boa poesia.

Uma nota negativa aos falsos amantes de RAP. A notícia de que algumas faixas deste trabalho vazaram e estavam a ser consumida antes de estarem prontas é deveras preocupantes. Isso não abona em nada a comunidades Hip Hop, nem a música em geral. O Mundo Sub-Urbano condena esse tipo de atitude.   

  




“Mil palavras de revolução” a caminho do “Lavagem cerebral”


A expectativa era grande e aumentava a cada dia. Os amantes do Hip Hop estavam ansiosos pelo encontro monstruoso dos senhores do Hop Hop moçambicano que tinham como missão espalhar as Mil Palavras de Revolução, num espectáculo organizado pelo elemento do colectivo Micro 2, Flash Ency ou simplesmente Vaccina Boss.

Na verdade, tal como o próprio Vaccina Boss explicou, o Mil Palavras de Revolução marcava apenas uma etapa no caminho que se percorre em direcção à “Lavagem cerebral,” seu trabalho discográfico que se espera que esteja nas ruas em Dezembro próximo.  

O África Bar, local que acolheu o evento esteve lotado. Com duas horas de atrasos (marcado para 16:00h começou 18:00h) que já causavam resmungo nos dezenas de niggas que se fizeram ao local, deu início o show sob comando do Mestre de Cerimónia, Tira-Teimas. Este que é elemento do grupo Irmandade.

Posto isto, o emcee Massa Cinzenta teve a responsabilidade de inaugurar o palco e fê-lo à medida das suas capacidades. Prosseguindo com o jogo, Kadabra MC, a promessa do estilo livre (Free Style), no panorama do Hip Hop nacional e por muito considerado o “homem da noite,” fez jus ao rótulo de “mestre de improviso” que agora lhe cabe. Mostrou-se aos que estavam do oposto do palco o que de bom sabe fazer. Lançar Freestyle. Trouxe o seu já conhecido mas ainda surpreendente jogo de rimas e arrancou aplausos e risos da plateia. Nota positiva para este rapper que, muito a propósito das suas habilidades, subiu ao palco pelo menos três vezes para deixar ficar seus versos. Quanto a mim, um sinal de que há sempre espaço para quem mostra serviço.

No meu relógio faltavam apenas 10 minutos para as 19:00 quando Massa Cinzenta, pela segunda vez regressou ao palco, nessa altura o feeling de que estávamos num show de Hip Hop começava a fluir mais, mas mesmo assim as “palavras de revolução,” estas ainda tardavam a chegar.
Instantes depois Xivica – The rastman rapper – mostrava também suas habilidades no santuário do África Bar. Com o tema ‘Cidade de Maputo’ “a cidade onde não se vive, apenas se sobrevive; onde os pobres ficam pobres e os ricos ficam ricos” deixou ficar o seu pensamento revolucionário. É preciso não esquecer que “a revolução começa no ponto de vista de cada cidadão. Aquele tema faz parte do álbum “Lutar para Vencer” que inclusivamente esteve a venda no local.  

Os niggas se sucediam no palco deixando ficar suas palavras de revolução (?). Alguns deles com muito fraco desempenho em palco.

Depois da actuação do Mentor- o Carismático - ao lado de Kronic, o rapper Stink Soldier foi encarregue de fechar a primeira parte do show. As expectativas dos niggas que assistiam não estavam a ser satisfeitas ao nível desejado, avaliando pelo nível de aceitação e feeling que demonstravam. O Mestre de Cerimónia foi muitas vezes obrigado a apelar a reacção da plateia com o seu grito de guerra – What’s up, What’s up?
África Bar ia ficando cada vez mais inundado quando o Tira-Teimas deixou ficar seus já conhecidos versos do tema “o povo não é burro completamente.” O elemento da Irmandade levantou uma questão merecedora da reflexão: Como é possível a pobreza acabar (em Moçambique) se o Governo é que nos está a roubar? E assim fechava a primeira parte. (Continua)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Metamorfoses na escrita de Azagaia



Azagaia na Musica de Intervencao Rapida
" (…) Se a polícia é violenta respondemos com violência
Muita causa pra se mudar a consequência” (Azagaia, 2008)

“(…) Contra polícia violenta, disparo o artigo quarenta
se a lei não representa eu preparo o oitenta
depois o trinta e cinco, quarenta e oito, quarenta e três
aprendam de uma vez Estado não são só vocês (…)” 
(Azagaia, 2013) 

Mais uma vez, Edson da Luz ou simplesmente Azagaia, rapper moçambicano autor do álbum “Babalaze,” aparece nas páginas do Mundo Sub-Urbano. Mas desde vez não há nenhuma intenção de ensaiar uma resenha tal como no artigo passado, quero apenas evidenciar a constatação que registei ao escutar as músicas desde polémico rapper.

As citações acima retiradas de duas músicas do mano Aza, a primeira no tema “Povo no Poder” de 2008 e a segunda no “Música de Intervenção Rápida (M.I.R.)” de 2013, evidenciam a forma como a base criativa da construção das letras sofreu uma modificação. Quanto a mim mais consciente.
Já no outro artigo sobre Azagaia o Mundo Sub-Urbano chamava atenção para o facto de este homem de Hip Hop moçambicano estar a demonstrar mais maturidade na concepção das letras, o que se comprova com as histórias mais atractivas que ele conta.

Mas focalizando naqueles versos nota-se claramente a forma como Azagaia abandona a Lei de Moisés (violência responde-se com violência) e busca formas legais de resolver o problema de violência recorrendo à Lei Mãe. O autor destas linhas louva esta tendência. E só para deixar o leitor mais a par do assunto vou transcrever os artigos da Constituição da República citadas pelo rapper, e na mesma ordem que ele o usa.

Na Música de Intervenção Rápida (MIR), Azagaia menciona os artigos

Artigo 40 (Direito à vida)
 1. Todo o cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis ou desumanos.
 2. Na República de Moçambique não há pena de morte.

Artigo 80 (Direito de resistência)
O cidadão tem o direito de não acatar ordens ilegais ou que ofendam os seus direitos, liberdades e garantias.

Artigo 35 (Princípio da universalidade e igualdade)
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou opção política.

Artigo 48 (Liberdades de expressão e informação)
 1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação.
 2. O exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente, a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação não podem ser limitados por censura.
 3. A liberdade de imprensa compreende, nomeadamente, a liberdade de expressão e de criação dos jornalistas, o acesso às fontes de informação, a protecção da independência e do sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e outros meios de difusão.
 4. Nos meios de comunicação social do sector público são assegurados a expressão e o confronto de ideias das diversas correntes de opinião.
5. O Estado garante a isenção dos meios de comunicação social do sector público, bem como a independência dos jornalistas perante o Governo, a Administração e os demais poderes políticos.
6. O exercício dos direitos e liberdades referidos neste artigo é regulado por lei com base nos imperativos do respeito pela Constituição e pela dignidade da pessoa humana.

Artigo 43 (Interpretação dos direitos fundamentais)
Os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos.